Gazpacho de amoras e kombucha

Hoje improvisei um gazpacho* ao qual acrescentei amoras!!

Esta sopa fria de origem andaluza é, já por si só, uma excelente poção de antioxidantes, preparada com alguns dos alimentos mais refrescantes que o Verão oferece em superabundância: tomates, pepinos e pimentos.

As amoras além de trazerem um plus nutritivo (para saberes mais sobre as suas incríveis propriedades, vê o post anterior), dão um delicioso toque adocicado que combina divinamente com toda a mistura de ingredientes.

Outra peculiaridade desta receita é o vinagre de kombucha. Sou fã da bebida e nos últimos anos tenho feito várias experiências com as segundas fermentações e vinagres. Para quem não sabe, o vinagre de kombucha é muito simples: é simplesmente o processo natural de deixar o/os “scoby” por mais tempo no líquido que lhes preparamos… eu gosto de deixar mínimo 2 meses. Mas pode ficar muito mais tempo. Junto sempre algumas aromáticas para enriquecer o aroma e aumentar o seu potencial, tendo assim uns vinagres super medicinais para condimentar as minhas receitas!

E hoje usei, portanto, um vinagre de kombucha (de 4 meses) na preparação do gazpacho. Ao provar o resultado, e tendo como referência a memória de outros gazpachos de sabor mais ácido, senti que ficava bem aumentar esse paladar e então acrescentei um pouco de sumo de limão. E touché, ficou hiper, mega delicioso!

Vamos à receita (fiz tudo a olho, mas foi mais ou menos assim)

  • 5 tomates coração de boi (grandes e maduros)
  • 1/2 pimento verde
  • 1/2 pepino
  • 1 dente de alho grande
  • 1 cebola roxa pequenina
  • 4 C sopa de azeite
  • vinagre de kombucha (ou outro de boa qualidade) a gosto
  • sal a gosto
  • sumo de meio limão (ou a gosto)
  • 1 taça de amoras

Triturar tudo numa máquina potente (liquidificadora, bimby ou triturador) e já está! Rendeu 1200ml.

Podes tomar em copo ou em tigela. Eu prefiro esta última opção pois permite saborear mais lentamente… mmm, uma delícia! Espero que desfrutes muito, tu também, desta receita divinal!

E tu, já conhecias o gazpacho? Costumas criar algumas variações? Partilha aqui as tuas experiências!

*gosto de escrever com “z”, à andaluza 🙂

Beldroegas

No Verão estas bonitas folhinhas carnudas recheiam os meus pratos. E este ano são da minha horta! Estou tão feliz por ver os belos mandalas de beldroegas crescendo por aqui, de forma espontânea, com tanta força e abundância! Um valioso regalo, reflexo de que o solo agora tem mais vida, graças ao carinho e nutrição que lhe temos dado.

Eu vibro muito com tudo o que cresce assim, de forma espontânea, de Graça… além da magia inerente à surpresa, da rebeldia na forma da aparição e da força vital que trazem, as plantas silvestres comestíveis têm um poder nutricional incrível, que é, de um modo geral, superior ao das cultivadas!

E penso cá para mim… acho que é “pecado” não as comermos e não usufruirmos destes regalos divinos em forma de “superalimento”…

Temos o direito e o dever de recuperar a relação com as plantas silvestres comestíveis e medicinais, apesar de desconsideradas na sociedade industrial capitalista. Elas fazem parte da nossa cultura e humanidade e trazem respostas e soluções para muitos problemas actuais…

Se vives na cidade também as encontras, às beldroegas e outras bravias, quer em jardins, quer por entre as pedras das calçadas, em fendas de paredes ou até mesmo nas fissuras do alcatrão, de onde conseguem irromper, qual manifesto de vida e beleza, materializando diálogos secretos entre os elementos e recordando-nos a resiliência eterna da mãe Natureza. Contempla-as mas não as consumas (estas dos espaços públicos urbanos), pois podem estar contaminadas por venenos ou dejectos de animais. É melhor fazer um passeio por hortas, jardins e bosques onde saibamos que estão limpas.

Felizmente o interesse pelas PANC’s (Plantas Alimentícias Não Convencionais) está em expansão e é frequente encontrá-las à venda nos mercados de produtores biológicos – no Príncipe Real, Campo Grande, Feira da Ladra, etc –  (quando vivia em Lisboa era lá que ia comprar)

As beldroegas (Portulaca oleracea) dão-se especialmente bem em hortas, a par com as hortícolas, onde usufruem das regas abundantes destinadas a estas e da fertilidade do solo. As suas sementes são minúsculas e cada planta gera milhares, que depois podem permanecer viáveis ​​no solo por décadas! Ao encontrarem as condições ideais, lá para finais de Maio, as mais bravias começam a brotar e as suas folhinhas vão-se expandindo, com geometrias estrelares, criando belos tapetes em “horror vacui”.

Sou muito grata pela abundância desta plantinha aqui na terra! Elas são daqueles superalimentos com inúmeras propriedades, além de que têm um sabor e textura maravilhosos!

São uma das plantas mais ricas em Omega 3. Alguns investigadores referem mesmo que tem DHA (ácido gordo essencial, da família Omega 3, com grande poder antinflamatório e antioxidante, sobretudo a nível cerebral e do sistema nervoso) nos rebentos tenros, algo que parece ser inédito numa planta de terra (algumas algas marinhas e peixe azul são as fontes de que se tem conhecimento).

Têm também grande quantidade de compostos antioxidantes: como a vit. E, C, betacarotenos, flavonoides… E vários minerais importantes, incluindo potássio, magnésio e cálcio.

Estas características fazem dela uma planta com importantes propriedades antinflamatórias e excelente para o fortalecimento imunitário. É também muito interessante como diurética e digestiva – devido aos mucílagos, é óptima como calmante a nível das mucosas digestivas e das vias urinárias. Essas propriedades emolientes também têm utilidade a nível externo em situações de queimaduras e outras irritações de diversas etiologias.

Como consumir:

As possibilidades são infinitas pois toda a planta é deliciosa e comestível (inclusive as sementes). Quem já me conhece sabe da minha paixão pela Alimentação Viva e crua e com o calor o meu corpo naturalmente pede saladas gigantes, coloridas, cheias de beldroegas! Em cru aproveito ao máximo as suas propriedades e a textura suculenta. Quer as folhinhas, quer os caules jovens são super tenrinhos e crocantes, com um toque ácido suave e mucilaginoso. Adoro! Combinam bem com tudo, devido ao ser sabor suave, nada invasivo. Eu gosto especialmente de juntar tomate, pepino e orégãos, entre outras plantas, silvestres e de cultivo, que crescem na horta.

Cozinhadas também são deliciosas e o sabor intensifica-se. Na nossa gastronomia temos as famosas sopas de beldroegas, típicas do Alentejo. Eu adoro sopa de beldroegas com tomate (acho que há uma simbiose especial entre os dois). Aproveitando os excedentes da horta, hoje fiz um puré de curgete com batata, cebola e alho. Já quase no final juntei as beldroegas (elas cozem muito rápido), tomatinhos, muuuiitos orégãos e azeite. Ficou uma delícia!

Também as podes juntar em arrozes, guisados, lasanhas, etc.

E tu, já usas as beldroegas? Como gostas de as consumir?

Arrozinho de urtigas!

Uhm, adoro!

Simplicidade e minimalismo de uma receita que resulta num delicioso manjar com superpoderes nutritivos!

A urtiga comum (urtica dioica) é talvez a mais famosa das PANC’s (plantas alimentícias não convencionais). É uma planta fabulosa, super versátil, com um largo historial de utilidades, não só a nível medicinal e alimentício, como também têxtil e agrícola.

Para mim é um superalimento delicioso! E incluo-a com frequência nas minhas refeições! Quer em batidos, sopas, molhos ou em arroz, como hoje!

Gosto muito destes regalos grátis, espontâneos e generosos da terra, incrivelmente ricos em nutrientes e em “prana”, e que nos trazem a memória de um modo muito ancestral, autónomo e intuitivo de alimentar-nos – a recolecção selectiva de plantas silvestres.

Elas têm a magia de aparecer de surpresa no lugar e na estação em que escolhem crescer. E deste alinhamento secreto resulta uma grande diversidade e riqueza nutricional oferecida em sintonia com os ciclos da natureza… e os nossos…

Hoje felizmente cá estamos muit@s resgatando esta prática milenar de recolecção e conexão, quase perdida devido ao desenvolvimento da indústria alimentar e farmacêutica.

A urtiga é uma das plantas silvestres mais nutritivas e mais acessíveis a qualquer um! Cresce desde o Outono ao final da Primavera, por praticamente todo o Portugal, em zonas húmidas e férteis. Este ano as chuvinhas abundantes favoreceram o contínuo crescimento de plantas tenrinhas!

É uma das maiores fontes conhecidas de “proteína verde”!! E é super rica em clorofila, em minerais (ferro, cálcio, magnésio, silício, cobre, etc), em vitaminas do complexo B, vitamina C, A… antioxidantes, fibras… tudo em perfeitas sinergias para a tonar num superalimento e medicina útil para diversas maleitas. Destaco o seu poder remineralizante, reconstituinte, anti-inflamatório e diurético, sendo muito útil no tratamento e prevenção da anemia, em temas de saúde óssea, reumatismos, em detox, no tratamento de alergias, em diversos problemas de pele, queda de cabelo, para estimular a produção de leite materno, equilibrar as hormonas, o sistema nervoso, etc.

Devemos escolher as urtigas mais jovens e menores. As urtigas adultas, em floração, são mais fibrosas e contém cistólitos, que podem irritar o trato urinário.

Podemos usá-las cruas ou em chás, sopas ou outras receitas. Em cru temos a vantagem de manter intacta a vitamina C, entre outros nutrientes. No entanto, devemos ter algumas precauções por causa da acção urticante (devido ao ácido fórmico e histamina que penetram na pele através dos pelinhos existentes nas folhas e caules). É mais prudente usá-la em sumos ou batidos ou então amassá-la antes de colocar na boca.

Contudo, a nível externo o seu carácter urticante tem surpreendentes benefícios! Na medicina naturista usa-se para activar a circulação, sobretudo nas articulações e extremidades do corpo, como tratamento para artrite, reumatismo, paralisia muscular, etc. E mais, através desses pelinhos, além do ácido fórmico e da histamina, também penetram na pele serotonina e acetilcolina!!! Portanto a acção urticante é um poderoso estímulo não só físico como químico sobre o nosso vigor! (Abstenha-se quem tiver sensibilidade à histamina ou alergia a algum dos componentes da planta)

Mas vamos à receita!

1º escolhes um arrozinho integral de grão redondo, de preferência biológico e português (temos uma excelente produção na região de Setúbal). Colocas de molho por 8 a 10hs.

2º apanhas as urtigas num local limpo (sem pesticidas, nem excrementos de animais). Escolhe as mais verdinhas e jovens, sem flores. Para não te picares o mais prático é usares luvas.

3º enxagua o arroz e leva a cozinhar no dobro da água com o lume brando. Passados uns 20 minutos juntas o sal e as urtigas (previamente lavadas) e mexes de maneira a envolvê-las bem. Passados 5 minutos apagas o fogo e deixas repousar.

Combina maravilhosamente bem com um topping de pinhões (estes vieram de pinhas também apanhadas por mim) e regado com um fio de azeite.

Se queres saber mais sobre o uso alimentício de plantas silvestres e a alimentação “plant based”, não percas o meu próximo workshop: “Plant based diet, tudo o que precias saber”

Bombons Afrodisíacos

Nas celebrações do dia dos namorados não costuma faltar o chocolate!

No entanto, o chocolate “convencional”, na maior parte das vezes, está longe de ser um alimento amoroso e afrodisíaco. Vem carregado de açúcar, leite, cacau refinado e aditivos. E lá vamos nós corromper o nosso paladar e ficar adictos de um produto que, ao invés de estimular o amor e aumentar a vibração, nos narcotiza, enfraquece e debilita.

Felizmente a procura por opções mais saudáveis, mais éticas e empoderadoras está em crescente e faz parte da prática de uma alimentação mais consciente para a qual todos estamos despertando.

Aqui vos trago então o meu contributo para uma celebração amorosa, com esta receita especial de bombons afrodisíacos, com nutrientes que activam o corpo, aquecem o coração e acendem a líbido! Para os desfrutares desde a preparação, colocando todo o teu amor como ingrediente principal.

O cacau que eu utilizo, nesta e noutras receitas, é um cacau puro, em pó, de produção biológica, classificado como “cacau cru”. No entanto, cabe dizer, nos processos artesanais de secagem dos grãos de cacau ao sol, aos quais tive o privilégio de assistir há alguns anos (@cacau0rgasmic0), é frequente a temperatura desses belos grãos negros subir bem acima dos 45º (a temperatura limite na classificação de um alimento como cru), tal o poder que têm em atrair os raios de Sol, carregando-se da sua luz e energia! Este aumento da temperatura na exposição solar não deprecia, portanto, a qualidade dos grãos, antes pelo contrário!

Bem diferente é o tratamento do cacau em pó mais comercial, em que os grãos de cacau são torrados a temperaturas elevadas, processo que faz diminuir a sua riqueza em vitaminas, minerais e antioxidantes. Para além disso, muitas vezes levam compostos químicos e a produção não está regida por critérios ecológicos e de ética laboral.

O cacau puro “cru” é considerado um dos alimentos com maior concentração de antioxidantes! Tem reconhecidas propriedades antidepressivas, revigorantes e anti-inflamatórias. É muito rico em vitaminas do grupo B, em minerais (magnésio, cobre, ferro, zinco, entre outros) e em milagrosos fitonutrientes (como a teobromina, catequinas, muitos polifenóis e a feniletilamina – a “hormona da paixão”).

Portanto, por si só, o cacau, ou “Alimento dos Deuses”, como sabiamente lhe chamavam os Aztecas, é um alimento altamente afrodisíaco. Nesta receita vamos só activar ainda mais as suas propriedades, com poderosas sinergias e formas bonitas!

E vamos então à receita!

Rawbombons afrodisíacos:

Ingredientes:

  • 80g de cacau em pó
  • 120g de manteiga de cacau
  • 50ml de agave ou 1 colher de sobremesa de stevia verde (ajusta ao teu gosto)
  • pitadinha de sal
  • pitada de açafrão em pó
  • pitada mínima de caiena em pó
  • ½ c de café de baunilha natural em pó
  • raspa de meia laranja
  • sultanas
  • amêndoas activadas (demolhadas por 10hs)
  • pétalas de Camélia

Preparação:

Amornar a manteiga de cacau em banho-maria (derrete a 35º). Juntar o sal, as especiarias e a raspa de laranja e envolver bem. Misturar o agave e o cacau em pó e mexer bem até conseguir uma textura homogénea. Colocar em formas de bombons e rechear com sultanas, amêndoas e pétalas de Camélia. Levar ao congelador por 15 minutos, et voilá!

Acompanha com um chá de gengibre com damiana!

Feliz dia de São Valentim! Muito amor!

Nota importante:  o prazer imediato promovido pelo chocolate não é suficiente para resolver problemas de vitalidade, humor e emoções. Uma alimentação saudável e variada, em que predominem os vegetais (maiormente crus) é fundamental para manter a energia e a vitalidade em alta! Assim como uma boa capacidade digestiva e de absorção para a assimilação de todos aqueles milagrosos nutrientes.

Granola Crua

Viva, crocante e vibrante! Uma maravilhosa opção para um pequeno-almoço delicioso, saudável e mega nutritivo!

Frequentemente me perguntam por ideias para pequenos-almoços “alternativos” e saudáveis. Esta granola é a minha opção favorita para a primeira refeição do dia!

No meu percurso pela Alimentação Viva experimentei várias opções para o “desjejum” (1ª refeição depois do jejum nocturno). Desde variadíssimos sumos verdes e arco-iris a frutas inteiras, passando por pequenos-almoços mais “completos” – que, desde uma perspectiva higienista, devem ser tomados tardiamente, não antes das 10h / 11h da manhã, zelando o processo depurativo em que o nosso organismo se encontra pela manhã.

De entre esses pequenos-almoços mais “completos”, a granola viva de sarraceno conquistou-me pela variedade de texturas, potência nutritiva/energética, leveza digestiva e facilidade na preparação, transformando-se no meu predilecto e eterno pequeno-almoço crudi!

Aprendi a receita numa das aulas maravilhosas do curso do “Espiritual Chef” de Rawfood Intensivo, quando vivia em Barcelona. No entanto, a dica não veio dele, mas de uma aluna. Uma mulher jovem, com pouco mais de 30 anos, que tinha passado por um processo de doença cancerígena e que por esse motivo praticava então uma alimentação 100% crua e antinflamatória. Ela levava num tuperwere de vidro uma mistura de sarraceno activado, juntamente com algumas outras sementes activadas, maçã, curcuma em pó, pimenta preta e adoçado com stevia pura.

No meu afã por experimentar tudo o que tivesse aqueles superpoderes detoxificantes, fiz a Granola Viva (assim lhe chamo eu agora) em casa e adorei!!!

Entretanto, fui criando algumas variantes, procurando manter as suas características essênciais. E hoje foi assim:

coloquei sarraceno, sementes de linhaça e amêndoas activadas (técnica recorrente na Alimentação Viva que consiste, basicamente, em hidratar as sementes tornando-as mega-nutritivas e muito mais digestivas), stevia verde em pó, sultanas, spirulina*, um fiozinho de azeite virgem bio e romã do nosso pomar. Podes variar os frutos secos e as sementes oleaginosas (escolhe os que sejam mais locais), a fruta (não mistures muitas e procura não juntar frutas doces com ácidas) e outros condimentos. Eu vou variando entre canela, curcuma, spirulina, maçã, pêra, sementes de girassol, sementes de abóbora, avelãs, nozes, etc.

E eis um super pequeno-almoço, híper/mega saudável, nutritivo, lindo e delicioso, que te dará energia para horas “a fio”!

Se queres saber mais sobre os benefícios da Alimentação Viva e aprender a activar/germinar sementes, integrando-as em outras maravilhosas receitas, não percas o workshop de Activação e Germinação de Sementes já este domingo.

*escolhe spirulinas artesanais e de produção nacional. São muito mais ricas em nutrientes, mais sustentáveis e estás a apoiar uma economia local e consciente. Eu adoro a spirulina dos Açores e toda a equipa 5esentia!